Diagnóstico Tardio de Transtornos do Neurodesenvolvimento: Reflexos no Desenvolvimento Cognitivo

Os impactos do diagnóstico tardio
É importante que se pense, perante os últimos anos, os impactos causados no desenvolvimento cognitivo dos indivíduos que apresentam atraso no neurodesenvolvimento, quando o diagnóstico é realizado de forma tardia. Esse processo, quando não investigado em seus primeiros sinais de atraso, pode influenciar diretamente em áreas fundamentais para a qualidade de vida do indivíduo como socialização, comunicação, atenção, planejamento e outros processos psicológicos básicos. Levando em consideração o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V –, pode-se considerar transtornos do neurodesenvolvimento descritos como Transtorno do Espectro Autista, Deficiências Intelectuais e Transtornos Específicos de Aprendizagem.
A importância do diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce revela, em principal instância, a promoção da intervenção adequada para elaboração de estratégias e planejamento terapêutico nos primeiros anos de vida, com objetivo de sanar os atrasos apresentados e promover aquisição de novas habilidades essenciais para redução dos prejuízos sociais e cognitivos (Pessim, Fonseca e Rodrigues, 2015). Ao focar no diagnóstico tardio, reflete-se o impacto causado no desenvolvimento dos indivíduos a partir de circunstâncias como a neuroplasticidade e a invisibilidade dos transtornos descritos no DSM-V, do qual o acesso às redes de saúde mental e cuidado biopsicossocial se apresentam em fragilidade. Assim, destaca-se a importância de uma rede de apoio que integre saúde, educação e assistência social para garantir o desenvolvimento integral dos indivíduos afetados (Pessim, Fonseca e Rodrigues, 2015).
Desafios na prática clínica e educacional
Quando se fala de desenvolvimento biopsicossocial, pode-se dizer que os desafios na prática clínica e educacional têm se tornado cada vez maiores, principalmente em populações em que o acesso às informações e às redes de saúde mental é distante. O diagnóstico tardio influencia diretamente a capacidade do cérebro em organizar circuitos neuronais responsáveis pela aquisição de novas habilidades e maturação do desenvolvimento cerebral, atribuídas ao processo de ensino-aprendizagem, intensificado nos primeiros anos de vida pela neuroplasticidade (Reis, Petersson e Faísca, 2009).
A crescente dos diagnósticos de TEA
Dada a compreensão do aumento dos diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista, é importante promover espaço para compreensão dessa crescente, articulando com os efeitos negativos do diagnóstico tardio no processo de aprendizagem, bem como a eficácia do diagnóstico precoce para aquisição de novas habilidades. Doubrawa e Menezes (2023) propõem aspectos cognitivos que comprometem a funcionalidade do dia a dia, como padrões de comportamento, estereotipias, ecolalias e comportamentos ritualísticos, evidenciando características observáveis ao longo do desenvolvimento humano, desde os primeiros anos de vida, e refletindo desde comunicação social às esferas motoras. Nesse sentido, Salgado et al. (2022) destacam a correlação entre diagnóstico precoce e redução de barreiras comportamentais.
Estratégias terapêuticas e o engajamento do indivíduo
As estratégias terapêuticas, por muitas vezes, são utilizadas dentro das operações motivadoras do indivíduo, sendo o engajamento imprescindível para o processo de intervenção clínica. Quando o diagnóstico é elaborado de forma tardia, surgem bloqueios vinculados à aceitação e preservação do que era esperado ao desenvolvimento, formulando impactos consideráveis no processo de aceitação intrínseca e na busca terapêutica por marcos esperados (Finger et al., 2024).
Diagnóstico precoce e o papel da neuroplasticidade
O diagnóstico tardio limita o acesso às intervenções adequadas, ao passo que o diagnóstico precoce favorece habilidades essenciais ao dia a dia, como comunicação verbal ou não-verbal, socialização, interação com o par e aumento no repertório cognitivo (Lima et al., 2024). Partindo do pressuposto de que os transtornos do neurodesenvolvimento não são curáveis, mas tratáveis, a intervenção busca alterar o curso do desenvolvimento e focar no potencial de cada indivíduo, considerando a neuroplasticidade, que se mostra mais efetiva nos primeiros anos de vida. Segundo Steffen et al. (2024), as evidências de intervenção terapêutica atribuídas ao diagnóstico precoce trazem efeitos concretos e palpáveis durante os 36 primeiros meses de vida.
Psicologia e inclusão: uma visão necessária
Pode-se incluir a importância da Psicologia na conscientização, elaboração e implantação do processo de inclusão e acesso equitativo aos serviços de saúde mental e educacional. Embora os números sejam crescentes, ainda é preciso refletir sobre os fatores sociais e culturais vinculados ao diagnóstico, oferecendo uma compreensão holística sobre o processo dos indivíduos diagnosticados tardiamente (Doubrawa e Menezes, 2023).
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.
DOUBRAWA, D.; DE MENEZES, K. A. S. Importância do diagnóstico precoce do autismo: uma revisão de literatura. Brazilian Journal of Development, 2023. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/60660.
FINGER, S. M., et al. Transtornos do neurodesenvolvimento em adultos: diagnóstico e manejo de autismo e TDAH. Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida, 2024.
LIMA, A. C. de F., et al. O impacto do diagnóstico tardio de TEA em adultos: desafios clínicos e implicações para o tratamento. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, 2024.
NADESAN, M. Diagnosing autism: Cultural and social perspectives. Journal of Autism and Developmental Disorders, 2017.
PESSIM, L. E.; FONSECA, B. C. R.; RODRIGUES, M. B. C. Transtornos do espectro autista: importância e dificuldade do diagnóstico precoce. Revista FAEF, 2015.
REIS, A.; PETERSSON, K. M.; FAÍSCA, L. Neuroplasticidade: Os efeitos de aprendizagens específicas no cérebro humano. In: NUNES, C.; JESUS, S. (Eds.). Temas atuais em Psicologia. Faro: Universidade do Algarve, 2009.
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STEFFEN, F., et al. Diagnóstico precoce de autismo: uma revisão literária. Revista Saúde Multidisciplinar, 2020.
SZATMARI, P. et al. The epidemiology of autism spectrum disorder: A review of the literature. Journal of Autism and Developmental Disorders, 2016.
Créditos
Autoria: PAULO BLASSIOLI – psicólogo / Instituto Almai [CRP 06/179256]